Lá na terapia
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Um dia destes, falando com alguém que sei ter passado por alguma violência e até uma doença complicada há uns anos, lá sugeri que talvez fosse melhor procurar alguma ajuda profissional.
Foi um daqueles momentos em que não se sabe bem como dizê-lo, pois mandar alguém fazer terapia ainda custa, por muito que se fale no assunto hoje em dia. E também porque isso é sempre uma decisão extremamente pessoal.
Neste caso, sublinhei, falar comigo e com outros amigos e familiares, já não seria suficiente... a meu ver.
Para criar algum conforto, dei o meu próprio exemplo: "Por que achas que andei 2 anos em terapia? Há traumas que nem sequer..."
Logo fui interrompido, obtendo uma resposta que justificou só por si o porquê de ser tão difícil falar ou sugerir isto a alguém.
"Mas tu vais-te abaixo mais facilmente do que eu". - ouvi.
Há uns anos talvez me calasse.
Desta vez fui sincero: "Quando comecei esta fase de terapia nem foi por estar exactamente em baixo, muito pelo contrário, foi porque parei... reflecti e vi umas coisas que precisavam de ser tratadas".
E é verdade.
Estava até numa fase boa. Novo trabalho, que adorava, Nova cidade, que adorava. E por aí fora.
Antes de terminar e mudar de assunto, acrescentei apenas: "Procurar terapia não é ir abaixo, é ir para cima".
Há ainda tanto a desmitificar sobre este assunto. E é óbvio que uma pessoa estando mesmo lá em baixo irá, espero eu, sentir mais necessidade (ou urgência) de procurar ajuda.
Mas às vezes são só traumas, são coisas desarrumadas num grande salão e que devem ser colocadas em caixinhas e gavetas, para tornar a estadia nessa divisão o mais agradável possível.
Claro que mexer no velho levanta pó e causa alergias e comixão nos olhos. E isso assusta. Ninguém gosta de olhos lacrimejantes.
Mas lágrimas limpam.
E limpar é essencial.