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O blog do Fi

um português em Berlim

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Squid Game é mau que dói

Filipe B., 24.10.21

Squid Game Frame-2.jpg

Também eu apanhei boleia no comboio do hype e pus-me a ver Squid Game.

Ia no episódio 2 e já me apetecia desistir, mas não me dei por vencido e lá vi o jogo até ao fim.

Infelizmente, a cada episódio as coisas (e o sentido da série) só pioraram. 

Squid Game é mau que dói.

Tem maus actores, mas mesmo maus (o episódio VIPS é difícil, tão difícil de ver exactamente por isto).

A audiência é muitas vezes tratada como se fosse um grupo de miúdos de 9 anos, tanta é a exposition (exposição?) em certas cenas. Isto acontece quando personagens "repetem" o que se passa em cena mas através de diálogos, como se nos estivessem a narrar o que acabou de acontecer... como se fôssemos muito pouco inteligentes para o percebermos pela nossa própria cabeça. 

Nem vou desenvolver sobre as falhas gritantes no argumento, mas deixem que vos diga que também gostava de ter um smartphone que por lá anda e que, por sinal, tem uma duração de bateria jamais vista neste mundo. 

Depois os plot twists ou são óbvios demais ou não fazem sentido nenhum e só estão ali pelo choque (Olá filmes do SAW!).

O que me custa é que a ideia inicial até é boa. E estava mesmo convencido de que ia gostar. Outras obras coreanas, como o filme Parasite e A Vegetariana (livro) já me mostraram como eles são bons a criar histórias com altos valores de choque social, mas com muita, muita qualidade pelo meio. Não foi este o caso.

E custa-me também ver outras séries tão boas serem ignoradas e outras terem tanto hype, sendo tão más.

Fez-me lembrar aquela série da mesma plataforma e em que, curiosamente, também andavam com uns macacões vermelhos. 

E eu entendo porque ambas fizeram tanto sucesso. São extremamente fáceis de ver, não se tem que usar muito a cabeça para entender o que se passa (ainda por cima quando o argumento usa e abusa da tal exposition), ambas vivem do hype, dos memes e do imediatismo das redes sociais. 

E é isso.

Muito hype, pouca uva.

Mr. Robot pode muito bem ser a melhor série de sempre

Filipe B., 04.03.16


Comecei a ver esta série sabendo pouco sobre ela. Pensava apenas que iria assistir à interessante história de um hacker, mas vi-me envolvido numa trama altamente psicótica, que vai às profundezas da psicologia da mente humana. Senti como se o Walter White convidasse o Dexter para um passeio e decidissem passar pelo Fight Club, roubando algo do ambiente do Pulp Fiction pelo caminho, terminando com o maior twist desde que o Luke descobriu quem era o seu pai (e a sua irmã)

Resumindo: Mr. Robot elevou para um nível altíssimo tudo aquilo que eu esperava das séries de televisão actuais. E foi uma grande, grande surpresa! 

Em 5 pontos, sem spoilers,  tento explicar por que pode muito bem ser esta a melhor série de sempre (embora isso em si seja redutor e desrespeitador para outras masterpiece do meio, mas é só para causar impacto!). 

Uma coisa é certa, desde Breaking Bad que não me viciava num produto assim. Vi todos os episódios em apenas 2 dias. 

Uma cena.


1 -  A cenografia de Mr. Robot não é de uma série de TV mas do cinema. E por cenografia quero fazer entender todo o aspecto da imagem, desde a cor, aos ângulos, pormenores destacados, focos, à forma como toda a série foi filmada, editada, produzida, etc. Quando digo que isto é mais cinema que TV, refiro-me ao refinamento que foi dado ao produto final. É soberbo. Lembra algum cinema de autor, algo independente que brilha só por si.

2 - Os personagens são brutalmente viciantes, desde aqueles que amamos, àqueles que odiamos de imediato. E até aqueles que estão no limbo entre o ódio e o amor não conseguem permanecer indiferentes. Mas é o protagonista, já que o nome o indica, quem rouba todo o espectáculo. É impactante desde o primeiro momento. É retratado brilhantemente, retorcido, esquisito, sombrio, misterioso. E não digo mais. 

Preparem todo o vosso ódio.


3 - A música. Juntando-se aos aspectos mais técnicos de que já falei no primeiro ponto, é algo que acrescenta e muito ao contar desta história. Da música clássica (Beethoven), passando pelo hip-hop, rock, terminámos numa banda-sonora original que é absolutamente magnífica, criando um ambiente claustrofóbico, que pesa na consciência do protagonista com o arrastar quase metálico dos seus sons (quem já viu vai perceber porque escrevo isto, quem não viu vai perceber depois)

Hello friend.


4 - Twists, twists e mais twists. Quando pensámos que já sabemos o rumo que algo está a ter, mais uma reviravolta. Os argumentistas jogaram com a nossa forma de pensar, o nosso psicológico, de uma forma que nos deixará a reflectir sobre certas cenas durante muito, muito tempo. Dou um exemplo. A meio surgiu um twist e eu fiquei estupefacto, incrédulo. Mas assentei os pensamentos e a partir daí comecei a ver a série de uma forma... que depois foi novamente, completamente, alterada. Bam!

5 - Um dos grandes motivos para a tremenda surpresa, passou pela forma como foram incluídos na história vários temas fracturantes da sociedade actual. Aqui é difícil explicar sem contar demais, mas eu não esperava nada que tópicos como o sadomasoquismo, a crise económica, a homossexualidade, o excesso de crédito, um personagens trans (género?), a paranóia tecnológica, o abuso de drogas ou a exploração no trabalho conseguissem reunir-se assim de uma forma arrebatadora, chocando e levantando tantas questões ao mesmo tempo. Sublime.


Agora uma confissão. Eu estava no primeiro episódio, ainda só tinha visto uns 20 minutos e já estava todo a gritar por dentro. Foi amor desde o primeiro instante. Esta série é obrigatória. 

É brutal, brutal, brutal!

E agradeço ao pessoal do Séries da TV pois foi através desta página que descobri esta obra (num top que fizeram sobre as melhores séries de 2015). 

EMPIRE: Tens que ver.

Filipe B., 11.06.15
A série Empire pode muito bem ser apenas o hit show do momento e, tendo em conta que ainda só tem uma temporada, até pode não continuar tão bem como nestes primeiros 13 episódios, mas tens que ver esta série. A sério, é obrigatório.


SINOPSE: Lucious Lyon é o rei do hip-hop e dono da editora musical EMPIRE. Mas o seu reinado é posto em causa quando descobre que tem uma doença que o vai deixar incapacitado em três anos. Lucius decide entãotreinar um dos seus três filhos para ser o seu herdeiro e assumir a liderança da empresa, sem destruir o que resta da sua família já bastante destruída.

5 razões pelas quais tens que ver isto. Não tem spoilers, para não estragar a surpresa. 


1-  Terrence Howard é Lucious, e é brutal. Prepara-te para o amar numa cena e para logo a seguir estares a praguejar o teu ódio por ele. Sei que o vais fazer em voz alta. Ele vai mostrar-nos do que é capaz um homem desesperado para proteger tudo aquilo que conquistou ao longo da vida.

2- Cookie (a ex-mulher de Lucious) que esteve presa durante 17 anos por tráfico de droga, volta para conquistar de volta aquilo que lhe pertence. Ela quer metade do império e fará tudo por isso. Ela é a ex-reclusa sempre Diva, disposta a tudo para arrasar tudo e todos, até a própria família, se for necessário. É bastante fácil dizer que ela tem as melhores cenas de cada episódio.

3 - As cenas musicais. Espera, não fujas já! Não vais ver ninguém aqui a cantar discursos à la Miserables, mas estamos a falar de uma série em que tudo gira à volta de uma produtora de música e por isso vais ver muitos números musicais ou, pelo menos, várias cenas em que a música (instrumental e letra) serve de complemento àquilo que os actores estão a fazer. E há cenas simplesmente brutais nesse aspecto. Os artista estão "catalogados", é muito fácil de vermos aqui e ali alguns aspectos de artistas como a Rihanna, Usher, Chris Brown... etc. E embora a estória da Empire seja inserida no "nosso mundo real", onde até fazem referências a John Legend, Lana del Rey e Lady Gaga (por exemplo), os artistas que foram criados para a série têm uma marca muito realista e músicas que ficam no ouvido logo à primeira. Por algum motivo, a banda-sonora tornou-se um HIT no Itunes e Spotify. P.S. - Timbaland é o produtor musical aqui do show. Preciso repetir?

4 - É viciante, mas mesmo viciante. Começas um episódio e não consegues parar. Há sempre alguma surpresa, algum twist ou algo que aquele personagem que mais amas vai fazer para que passes a odiá-lo. É frequente que os episódios acabem assim de repente, a deixar tudo em aberto para o seguinte. E podemos encontrar aqui alguns clichés, mas isso só vai servir para te prender mais ao argumento. Para mim foi viciante nível Breaking Bad, juro.

5 - Mas as questões sociais de Empire são a chave para o seu sucesso, pelo menos no meu caso em particular. A série trata tão frontalmente questões como o racismo, homofobia e a doença bipolar, que por vezes eu tinha dificuldade em acreditar que estava a ver ficção e não algum documentário biográfico sobre algum artista famoso. Essas questões, juntando-se a outras como o tráfico de drogas ou a misoginia, levam-nos para aquele patamar em que já estamos mais a reflectir sobre o que vemos do que simplesmente a seguir uma estória interessante. E, novamente, as músicas escolhidas para acompanhar o guião ajustam-se perfeitamente à sua realidade. 

"Everybody has a closet..." - canta Jamal numa das músicas que mais marcam esta primeira temporada.



E, na sua essência, Empire é toda ela sobre sair ou ficar no armário, até no sentido literal. Temos a reclusa que sai da prisão ao fim de 17 anos. O doente terminal que não pode revelar ao público a sua doença. O filho gay que não é aceite pelo pai. O filho que tem uma doença mental que não pode ser descoberta pela família. O homem que matou outro homem e que tem que manter esse segredo escondido. E todos os outros segredos relaccionados com o tráfico de droga, que devem ficar trancados no armário, e sobre os quais veremos algumas das cenas mais extremas que nos farão correr para o episódio seguinte.