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O blog do Fi

um português em Berlim

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Ana Moura vem a Berlim

Filipe B., 09.12.22

anamouraeurotour.jpg 

Como tenho já algumas idas a Portugal planeadas nos próximos meses, lembrei-me de ir pesquisar se algum concerto da Ana Moura calhava numa dessas datas. 

Para minha surpresa, a primeira data que me aparece é Berlim! Nem hesitei e comprei logo dois bilhetes.

Um para mim e outro para o P., que, não sendo português, também já se rendeu ao fado.

Tudo começou, mais ou menos, quando saiu a "Andorinhas". Obriguei-o a ver o videoclip comigo... várias vezes. Depois, sempre que íamos a Portugal em visita, a música tocava em todo o lado e foi ficando como uma música da nossa união.

No Verão passado dei por ele a ouvir, de sua vontade, uma playlist de fado no Spotify e fiquei muito orgulhoso da nossa cultura. É engraçado que ele, naturalmente, não percebe nada das letras mas gosta de ouvir (pesca algumas palavras portuguesas que lhe ensinei, mas estas não são muito usadas em canções de fado...)

Mas isto funciona para os dois lados. Também eu já absorvi algumas coisas da cultura dele, a polaca, como comer muito bem e de tudo ao pequeno-almoço e menos à noite (sim, a comida é importante nas duas culturas, mas digamos que as quantidades variam muito conforme os horários).

E dizia eu: Ana Moura vem a Berlim.

O meu Portugal, o meu Ribatejo, o meu fado, vêm à minha cidade.

Ando viciado no álbum "Casa Guilhermina", que no fundo foi um redescobrir do fado para mim. E sim, também obriguei o P. a ver comigo o videoclip do "Arraial triste" enquanto lhe explicava todas as referências visuais e rítmicas à cultura do meu lindo Ribatejo (nascido e criado ao som do fandango, ah pois fui). 

E aqui devo confessar outra coisa. Um dos artistas que mais ouvi no ano passado, segundo o meu Spotify e eu confirmo, foi o Pedro Mafama. Descobri o seu "Por Este Rio Abaixo" e há muito tempo que a sonoridade e poesia de um álbum não agarravam assim em mim.

Honestamente, desconhecia que a Ana Moura e o Pedro Mafama fossem um casal (não sou muito dado à vida mais pessoal dos meus artistas), mas basta ouvir o "Casa Guilhermina" para perceber de imediato que tantas faixas respiram ares das composições do Pedro (um produtor do caraças!).

E lá vamos então os dois, eu e o P., a 18 Janeiro ao Festsaal em Kreuzberg ver a rainha do fado moderno. Já o avisei que há um certo risco de eu me emocionar bastante nessa noite (basta ouvir uma guitarra a cantar, não é?).

Estou ansioso que chegue o dia. 

Traz tu também o Pedro, Ana. E cantem lá qualquer coisinha juntos. Se não for pedir muito. 

 

A culpa

Filipe B., 03.12.22

Eu em Berlim

Escrevo isto depois de ter visto este vídeo da Uyen Ninh

Ela tornou-se famosa no Tik Tok e Instagram por fazer vídeos sobre a sua vida de emigrante na Alemanha. E 99% dos vídeos são piadas sobre o choque cultural, o mau humor dos alemães, etc, mas de vez em quando vem um vídeo destes que nos faz reflectir. 

Ela fala da culpa. Ou melhor, ela refere-se ao sentimento de culpa por vivermos num país com melhores condições a nível social, da saúde, da educação, quando sabemos que as pessoas que deixamos para trás vivem em condições piores. E no meu caso, atentem, estou a falar de dois países europeus (Portugal e Alemanha) que, em muitas coisas, não estão assim tão diferentes. A Uyen vem do Vietname e não se pode comparar, com a minha, a enorme diferença que haverá no caso dela. 

Mas sim. Ainda há muitas diferenças. Dou um exemplo. Neste momento, como já sabem pelo que contei no blog, estou desempregado, porque fiz um acordo com a empresa, perante novos despedimentos, e saí. A tranquilidade e segurança que sinto agora e o apoio que tenho a nível monetário e em relação aos meus futuros estudos nunca existiu quando, por razões bem mais injustas, fiquei desempregado em Portugal. Lá foi dramático, depressivo, tive que depender dos meus pais.

Podia agora escrever 10 mil palavras sobre como os direitos dos trabalhadores são realmente importantes aqui... mas vá.

E portanto, sim, também me passa pela cabeça muitas vezes esse pensamento. A culpa é real.

Depois, para me tranquilizar, digo sempre a mim mesmo "Tu também sacrificaste muitas coisas para ter isto": o bom tempo e o Sol do teu país. A comida. O calor do povo. A facilidade de depender SÓ da tua língua materna.

E, acreditem, isto faz tanta diferença no teu dia-a-dia. Até no cansaço, exaustão, isso da língua tem um peso tão grande. Felizmente, graças ao meu esforço, estudo e investimento em escolas e aulas privadas, isso hoje já é um problema do passado.

Bem, poderia escrever um livro sobre os prós e contras disto tudo, mas fica para outra altura. A culpa que morra sozinha.