O Clube da Felicidade deixou-me triste, mas não faz mal
Peço desde já desculpa ao Carlos Coutinho Vilhena se lhe vou carregar ainda mais na angústia de criador, mas tenho que dizer isto. O "Clube da Felicidade" é uma obra-prima.
E não há cá hipérboles.
Para os mais distraídos, o "Clube da Felicidade" é uma série com 5 episódios que foram saíndo no Youtube entre Junho e Outubro deste ano.
Eu já tinha ficado rendido a "O Resto da Tua Vida", mas desta vez o Carlos Coutinho Vilhena superou-se em tudo.
Digo-o sem exagero nenhum. Foi a primeira vez que me levantei do sofá da sala e aplaudi de pé um vídeo do Youtube. Isto é tão bom. Acreditem. Não quero descrever demais, porque acredito que ir às cegas torna a experiência muito mais intensa, mas vou deixar algumas palavras me tentar justificar.
O "Clube da Felicidade" aborda um tema central que é a angústia de criar algo novo e bom (com público, de preferência), neste caso do ponto de vista do autor (o Carlos). E nessa viagem ao longo destes 5 episódios, embora a comédia e certos convidados apareçam ali para criar uma certa leveza em temas tão profundos, somos levados a reflectir sobre esse medo de se ficar sem ideias boas, sobre a possibilidade de falhar e desiludir quem espera uma obra em condições. É tudo sobre a pressão. A pressão.
Eu, que escrevo, vi-me ali muitas vezes. E foi difícil, mas tão necessário. Deixou-me triste, mas não faz mal.
Quantas vezes não olhei para algo que tinha acabado de escrever e pensei que tinha ali algo tão bom para, daí a uns dias, voltar a ler e ficar desiludido com a valente merda que tinha escrito.
Mas não pensem que isto é uma série que vai só reflectir as mentes complexas de artistas e companhia.
Não.
Vocês vejam.
Há ali uma reflexão superior e cada um de nós irá encontrar um pouco de si mesmo nesta obra.
É por isso que ela é excelente, porque tem várias camadas, porque de uma ideia fracassada chega a um final apoteótico em que a "morte do autor" espelha muito mais de ti do que tu esperas.