Vivemos em pequenas caixinhas
Aos 20 os nossos pais já tinham comprado ou mandado construir casas enormes com divisões que hoje estão vazias.
Nós vivemos em pequenas caixinhas apertadas e pagamos o dobro.
Ou o triplo.
Eles construíram tantos quartos e salas de estar e salas de jantar e despensas e garagens que hoje só apanham o pó que os filhos emigrantes deixaram ao fechar a porta e sair de repente.
Noutros casos, os quartos de criança voltam a abrir-se para receber o filho que torna ao sítio, de onde só devia ter crescido para o mundo, porque nem uma caixinha pequenina pode pagar.
É isso. Nós não mandamos construir nada.
Nem compramos já feito porque há outras prioridades.
Ou vivemos com os pais em ambientes disfuncionais onde o tempo grita e grita que já não devíamos ali estar.
Ou vivemos no estúdio de 30m2, ou menos, ou mais, com uma sala improvisada, uma banheira imaginária, dois bicos no fogão e uma mesinha-de-cabeceira que já foi uma caixa de sapatos.
Mas ao descer o prédio, temos logo aqui ao lado o café que nos vende os vanilla matcha soy bio vegan latte a 6 euros e está tudo bem.
imagem: Canva