Fui ver o filme O Quarto ao Lado(The Room Next Door) ao City Kino, um dos cinemas de bairro que ainda passam filmes menos comerciais aqui em Berlim. Por estes dias, estes lugares são um verdadeiro tesouro e tenho a sorte de ter o City Kino mesmo aqui no meu bairro.
Este filme ganhará muitos prémios. Aliás, ganhou já o importante Leão de Ouro no festival de Veneza.
Eu nem sabia do que o filme tratava. Vi que era do mestre Almodóvar e pronto.
Fui surpreendido com uma reflexão muito bonita, mas nada lamechas, sobre a luta contra o cancro e o direito a morrermos com dignidade.
Brutal e genial. Como só ele.
Niguém saiu da sala até acabarem os créditos. Dava para sentir o peso da reflexão.
A minha única dúvida agora é: a Julianne Moore e a Tilda Swinton poderão concorrer na mesma categoria nos Óscares?
"Michèle é a implacável chefe de uma empresa de videojogos. Um dia a sua rotina é quebrada quando é atacada e violada por um desconhecido dentro da sua própria casa. Fria e decidida, Michèle decide não deixar que isso a transtorne. Mas o seu agressor parece continuar a vigiá-la de perto..."
Sinceramente nem sei por onde começar.
Este filme passa por tantas camadas ténues dos nossos hábitos sociais, da família, do trabalho, das relações com os amigos... e com o amor. E é em todas essas passagens, sempre críticas e subtilmente metafóricas, que somos confrontados com duras realidades do ser humano.
A personagem Michèle retratada pela actriz Isabelle Huppert, à volta da qual gravitam todos os elementos do filme, é extremamente perturbadora, para dizer o mínimo.
Logo de início, parece-nos impossível que uma mulher decida assim nem sequer reportar uma violação à polícia, optando por seguir a sua vida normalmente sem um aparente trauma ou algo que a abale. Até a vemos a pedir à equipa criativa para colocar mais sangue, gore e violência no videojogo que está a produzir! E com a evolução da história só vamos percebendo que isso é apenas uma ponta de um grande mistério que vai sendo desvendado...
Este é mesmo daqueles sobre os quais não podemos falar muito, para evitar o risco de estragarmos surpresas do argumento.
Mas é sinceramente um dos meus filmes favoritos de 2016. É preciso estar atento para perceber todos os detalhes que fazem desta obra algo verdadeiramente grandioso. E é preciso aceitar um certo nível de sadismo que me parece ter sido atingido por estarmos a lidar com o cinema francês na sua mais perfeita... inocência?
Tenho a certeza de que algo assim não seria atingido num clássico filme de suspense do cinema americano, por exemplo.
Há aqui uma linguagem (europeia?) muito crua e muito desconcertante. E há também uma forma brutal de ir contando aos poucos mais detalhes que acrescentam muito à revelação da psicose (e do psicopata) que move esta história.
A partir da primeira hora do filme já só dizia a mim próprio: "Eu não acredito no que estou a ver..."
"Moonlight narra a vida de um jovem negro desde a infância até à idade adulta, na luta para encontrar o seu lugar no mundo enquanto cresce num bairro problemático de Miami."
Primeiro devo admitir o seguinte. Não fazia a mínima ideia sobre o que tratava este filme. Não tinha visto o trailer, nem sequer lido a sinopse. Vi que tinha ganho o Globo de Ouro de Melhor Filme e foi o suficiente para me despertar a curiosidade. Acontece muitas vezes com outras obras, pois considero que quanto menos se souber do argumento, melhor. Quem já viu, poderá agora imaginar a surpresa que foi este para mim!
O filme é dividido em 3 actos. O da infância, o da adolescência e o da idade adulta do personagem principal, Chiron. E é através da passagem do tempo entre esses 3 actos que vamos perceber a profunda reflexão que aqui se apresenta sobre os efeitos que certas acções têm no crescimento de uma criança, de um adolescente e finalmente de um jovem adulto. Não quero desvendar demais, para quem não viu, mas trata-se aqui de um brilhante exercício sobre o bullying.
Tal como o seu protagonista, que fala pouco, Moonlight perde pouco tempo com explicações demasiado óbvias, recorrendo mais aos artifícios da imagem e da banda-sonora para nos contar a arrebatadora história de Chiron.
E que banda-sonora! Esta não serve apenas para encher as cenas, mas está sim carregada de significado, que traz mais peso à já pesada história que nos é mostrada de forma magistral através de imagens que respiram fortemente aquela magia rara da sétima arte.
Prémios à parte, e mesmo com a possibilidade de ganhar um Oscar, penso que o grande trunfo deste filme é mesmo o de deixar-nos a reflectir fortemente enquanto os créditos finais correm. Poderoso, provocador e impactante, Moonlight dificilmente deixará alguém indiferente.
"Doze naves extraterrestres chegam a vários pontos do mundo e uma tradutora e especialista em linguística é chamada pelo governo dos EUA para se deslocar com uma equipa ao interior de uma das naves, de forma a tentar entrar em contacto com os alienígenas e entender o propósito da sua visita. Vêm em paz? São uma ameaça?"
Arrival (O Primeiro Encontro) é provavelmente o melhor filme deste ano. E um dos filmes mais inteligentes que já vi.
Dizê-lo assim pode parecer suficiente para levar qualquer um a vê-lo, mas agora entramos noutro campo. Este é um filme de ficção científica pura e dura, daquela que te obriga a pensar, que te dá mais questões do que respostas óbvias, mas que te faz sair da sala de cinema completamente atordoado.
Foi o que senti. Saí de lá incrédulo com o que tinha acabado de ver.
Não esperam explosões de 5 em 5 minutos nem naves supersónicas a sobrevoar os céus a cada cena.
Elas, as naves, estão ali paradas... com a mesma inércia que o filme parece ter na primeira metade, quando tudo ainda nos parece estranho, confuso e escuro, ainda que empolgante.
Depois vem a revelação final, quando o filme inicia gradualmente a ganhar mais cor e tu começas aos poucos a entender tudo o que te estão a contar desde o início. E é arrebatador.
Afinal esta poderá ser uma história mais sobre a família, a dedicação e a (in)compreensão humana. Mas debater isso aqui seria levantar demasiados spoilers e não o quero fazer.
Por ser uma obra de um género muito específico, esta película e as questões que levanta passarão ao lado dos espectadores menos atentos e que não buscam este tipo de filosofia numa sala de cinema. Mas aí está Arrivala dizer-nos que nem tudo está perdido no cinema americano das grandes bilheteiras.
Destaque ainda para a actriz Amy Adams e o actor Jeremy Renner, que nos trazem prestações de peso e ajudam a acrescentar muita densidade à história. E um grande aplauso também para a direcção e realização com planos e perspectivas que enchem a vista, sempre acompanhadas por uma banda-sonora de excelência.
Para ver. Pensar. Rever. E repensar.
E que venham daí as merecidas nomeações aos Globos de Ouro e Óscares.
Um filme de espiões na Guerra Fria. Não nos parece que já vimos isto antes?
E a verdade é que vimos. Mas Steven Spielberg pegou neste filme à sua maneira, dando-lhe uma excelente produção, com momentos de tensão pulsante.
Para isso contribui e muito também o excelente trabalho dos actores Tom Hanks e Mark Rylance, principalmente o deste último, que é completamente sublime e brilhante naquilo que faz.
Bridge of Spies traz-nos aquela sensação de nostalgia, até de um certo déjà vu, mas não sem nos afirmar fortemente que as suas regras, clássicas de um antigo cinema americano, não estão esquecidas. Elas trazem-nos afinal a lembrança agora bem presente de um tipo de cinema que ainda brilha.
É aí que o filme atinge o seu ponto máximo.
Mas será também por isso que este não será agradável para todos, deixando um pouco de parte algumas gerações mais novas, de espectadores, que já não se encaixam neste desacreditar tão saudável desta forma de (re)contar uma História.
Está nomeado para 6 Oscar, incluíndo o de Melhor Filme e o de Melhor Actor Secundário para Mark Rylance.
"Ellis Lacey emigra para os Estados Unidos, deixando a Irlanda, terra natal, indo à procura dos seus sonhos no outro lado do oceano. No ínicio da sua nova vida nos EUA, sente falta do que deixou para trás, mas aos poucos vai ajustando-se, até que começa um romance com Tony, filho de imigrantes italianos. Quando o seu passado regressa, terá que escolher entre dois países e as vidas que existem entre estes."
Esta crítica é tudo menos isenta de sentimento. É impossível afastá-lo daqui.
Talvez seja porque neste momento estou a viver num país estrangeiro (Itália!). Talvez seja porque estou longe de Casa. Mas há muito tempo que não chorava tanto com o final de um filme. E o que senti foi que estavam a entrar dentro de mim e a expor tudo aquilo que eu nem consigo escrever. E não nego que tudo isso tenha pesado na hora de o ver. Mas há algo incontornável. Brooklyn aproxima-se de nós como um simples filme de romance, de uma emigrante irlandesa que vai à procura de um futuro melhor noutro país. Mas depois revela-se uma obra poderosa sobre a saudade e as dificuldades que uma pessoa estranha num mundo novo sente ao tentar adaptar-se. E como é que uma história ambientada nos anos 50 do século XX consegue ser tão actual?
Uma actuação excelente de Saoirse Ronan(Ellis), que convence, ajuda a envolver-nos ainda mais na história. Ela transmite a insegurança inicial de uma forma arrebatadora (como o facto de não conseguir sorrir)... mas também transmite e bem a transformação que ocorre com a sua nova experiência. O argumento, num guião muito bem escrito, também ajuda e muito, com cenas que são simplesmente acutilantes, no sentido que nos tocam directamente em pontos sensíveis.
E pelo meio há uma cena que grita muitos dos medos que só quem vive distante daqueles que ama, consegue entender a 100%. Sem spoilers, mas digamos que é aquele medo de não chegar a tempo... e é aí que o filme se transforma de todo e se assegura como uma obra-prima do cinema.
De todos os nomeados que já vi, Mad Max e The Revenant eram os únicos aos quais eu entregava o Oscar. Mas este Brooklyn apanhou-me completamente de surpresa. Obrigatório ver!
"Sentirás tantas saudades de casa e não há nada que possas fazes, além de esperar. Mas vais esperar. E isso não te vai matar. E um dia, o sol aparecerá. Talvez não notes de imediato, mas vais senti-lo."
Directo ao ponto. É um filme brutal. Em todos os sentidos. Mas não quero estragar surpresas e vou só falar de pontos gerais.
Excelente produção. Sonoridade exemplar. Planos que ajudam a criar uma tensão que nos toca, tornando a acção por vezes tão real que arrepia. E uma fotografia que nos traz imagens que à primeira vista se tornam de imediato inesquecíveis. Estes são os ingredientes base que fazem deste um magnifico trabalho do cinema actual.
Depois temos uma performance de topo por parte do actor Tom Hardy, que é para mim a grande estrela deste filme. Brilhante, irreconhecível, perturbador. E o Leonardo que me perdoe, mas se há 2 Oscar que este filme devia ter como garantidos, seriam o de melhor actor secundário(Tom Hardy) e o de Melhor Realizador (Alejandro G. Iñárritu).
E só não digo já o de Melhor Filme, porque ainda não vi todos os outros nomeados.
E porque o Mad Max até ver continua à frente na minha preferência.
Mas The Revenant é daqueles que leva algum tempo a processar-se. E nem eu sei se a minha opinião não o favorece mais entretanto.
Seja como for, é sem dúvida nenhuma, tal como o Mad Max, um dos grandes filmes de 2015 e um dos meus favoritos desde que me lembro de apreciar cinema.
Primeiro que tudo, convém dizer isto: eu sou o ultimate fã de Star Wars. Sou... naquele nível em que quando as letrinhas amarelas deste episódio VII começaram a deslizar pelo ecrã, não consegui conter os arrepios e as lágrimas de emoção, quase não conseguindo ler o que lá estava escrito. Também não faço parte daquele grupo de fãs que odeia as prequelas.
Fui ver The Force Awakens num cine-teatro centenário em Firenze (aqui em Itália). Neste país há um grave problema. TODOS os filmes são dobrados em italiano. Agora imaginem o que sofri para encontrar um cinema que passasse o filme na sua língua original.
No fim da minha busca, dei por mim sentado nesse épico cinema (um edifico BRUTAL!), rodeado maioritariamente de turistas americanos e ingleses (foram ali ter pela mesma busca que eu, estou certo).
Mal apareceu no ecrã "A long, long time ago..." todos começaram a bater palmas. E eu também. Quando aparecia alguém da velha trilogia o efeito era o mesmo. Palmas, gritos, euforia (juro... nunca tinha estado numa sala assim).
Posso dizer que vivi uma experiência a - ma - zing. E claro que tudo isto tornou o assistir do filme em algo ainda melhor do que aquilo que só pelo filme em si já podia ser.
Posto isto, vamos ao que interessa.
The Force Awakens não é inovador. É justo que o vejam sobretudo quase como um remake do Episode IV (os pontos fulcrais do plot são quase os mesmos). Até eu a meio do filme dei por mim a pensar que esperava algo mais do que aquilo que estava a ver. E acreditem, eu estava a AMAR tudo até aí. Mas conhecendo e bem a obra do génio J.J. Abrams, faltava-me ali qualquer coisa de seu. Um toque de génio, digamos.
Mas... se até esse ponto a minha excitação pelo filme eram sobretudo os hints à saga, e não propriamente pelos personagens novos, devo dizer que na parte final tudo mudou e dei por mim a rejubilar por terem entregue a minha saga favorita de sempre a este realizador.
Ao fim, este Star Wars equilibra de forma espectacular tudo o que os anteriores filmes tinham de bom com aquilo que traz de novo e que poderemos esperar nos próximos da saga.
Exemplo disso é a última cena, a derradeira imagem do filme. Quando a Rey vai a subir rumo ao topo daquela montanha onde está o Luke. Foi aí que este filme ganhou para mim todo um novo valor. Ainda por cima com aquela música épica a tocar (e com o sample de Binary Sunset!!) É uma cena final completamente diferente de tudo o que já foi visto num Star Wars. Como se durante todo o filme o J.J. Abrams nos estivesse constantemente a dizer "Ok ok... fãs.... agora estou só a fazer aqui umas homenagens aos filmes de que vocês gostaram..." para depois nos exclamar nessa cena "OK! Esta saga agora é minha e isto a partir de agora vai ser à minha maneira".
Foi o que senti, que nos estava a passar uma grandiosa mensagem de esperança para os próximos filmes. Foi aí que este se tornou de imediato num dos meus Star Wars favoritos.
Já vi o filme há quase 3 semanas e só agora consegui escrever sobre ele, pois nao é fácil digerir tanto sentimento, tanto pensamento sobre o que vi.
Mas quando saí daquele cinema, de olhos a brilhar, de sorriso rasgado, a agradecer ao George Lucas por ter vendido os direitos à Disney, a minha ordem de preferências do meu TOP 3 ficou assim:
- Ep V
- Ep III
- Ep VII
Por enquanto, mantém-se (como por acaso, tem um filme de cada trilogia).
"Simon e Robyn casaram há pouco tempo e estão muito felizes até ao dia em que ele reencontra Gordo, um antigo colega de escola. Um segredo do passado dos dois vem à tona e Robyn sente-se cada vez mais insegura perto do seu companheiro."
The Gift é um thriller psicológico dos pesados. É um filme sobre bullies, vítimas e agressores. Não tem gore nem violência, por isso não é bom para quem o vai ver à espera disso. É um daqueles filmes que vive só dos personagens (e do enredo, claro). Eu vi-o sem saber muito... e agradeço-me por isso. Explicar por que é tão forte é impossível sem fazer spoilers. Mas vou tentar desta forma. Desde o início que sabemos quem é o sociopata da estória. A meio do filme eu comecei a sentir EMPATIA por ele. Senti-me mal. Afinal porque haveria eu de estar do lado de um sociopata? Quando perto do fim se descobre mais sobre ele, percebi de imediato porque tinha sentido isso. E foi a - ma -zing! O filme jogou com os meus sentimentos de uma forma brutal. E depois deixa no ar a dúvida, o desconforto, sobre quem são realmente os sociopatas desta sociedade em que... vivemos? Preciso urgentemente de discutir isto tudo com alguém que já o tenha visto. Por isso, se ainda não viste, faz-me esse favor.
No fundo é um filme brilhante que levanta muitas questões sobre os nossos papéis na sociedade, sobre como as nossas decisões afectam e muito as vidas de outros e sobre a manipulação das ideias, informações e boatos que se espalham (que espalhamos?) ao nosso redor.
Vai directo para a minha lista de melhores filmes de 2015.
O ursinho Ted está de volta e desta vez tem que provar em tribunal que é uma pessoa, para conseguir adoptar um filho e evitar que o seu casamento seja anulado.
O filme é bastante divertido, com piadas que chegam a extremos do humor mais físico, mas também com outras que podem passar despercebidas aos mais distraídos, dado o seu sentido de humor mais irónico ou implícito.
É um bom filme, portanto, sendo que cumpre o que promete, que é fazer-nos rir sem pensar muito sobre isso.
Peca apenas por ser basicamente uma cópia do primeiro (não quiseram arriscar e mexer na fórmula que fez sucesso). O guião é assim um revisitar total do Ted que vimos em 2012. É curioso que os próprios produtores têm noção disso, pois mais no final puseram um dos personagens a dizer "Estou a ter um deja-vu", numa cena que é escandalosamente semelhante a uma da primeira aventura do urso politicamente incorrecto.
Por isso, não me deixa com vontade de ver um terceiro. A não ser que de facto arrisquem e levem a história para outros caminhos, caso contrário a ideia que passa é que não há muito que fazer criativamente com o Ted.
Um facto curioso, o filme estreia na mesma semana em que foi aprovada a lei da igualdade do casamento entre pessoas do mesmo sexo nos USA, e é um facto que os guionistas aproveitaram para espelhar, na luta do Ted em tribunal, uma certa semelhança a essa outra luta dos direitos humanos.