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O blog do Fi

um português em Berlim

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O curioso caso do Five Guys

Filipe B., 11.11.24

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Sabem quantos restaurantes Five Guys temos aqui em Berlim? Cinco! 

Sabem quantas vezes lá fui? Uma. 

Vivo cá há 6 anos.

Fui dessa vez. Há uns 2 anos. E não detestei. Até gostei do sabor do hambúrguer e das batatas. Mas ficou-me mais na memória a experiência ao fazer o pedido do que propriamente o sabor da comida.

Acho que outro problema aqui é que há casas de hambúrguer mesmo muito boas, em cada esquina e ao mesmo preço. Adoro os Burgermeister, por exemplo. Um destes, no louco bairro de Kreuzberg, foi em tempos uma casa-de-banho pública, antes de ser convertido em restaurante. Peculiar e um dos meus favoritos. Os sinais de homens/mulheres ainda lá estão bem visíveis.

Mas o Five Guys em Portugal, seja no meu grupo de amigos ou nas notícias dos nossos políticos e celebridades (primeiro o Pedro Nuno Santos em Espanha, depois o Goucha em Itália), faz correr muito comentário. 

É que em Portugal ainda não existe um Five Guys. Nem um, quanto mais cinco.

E este parece mais um daqueles casos em que o hype vem todo do entusiasmo/ansiedade de ainda não se ter algo. Como não há, está longe, pouco alcançável, torna-se mais apetecível.

É um restaurante bom, naquilo a que se propõe, mas de onde vê toda esta euforia?

Já Variações explicava:

"Esta insatisfaçãoNão consigo compreenderSempre esta sensaçãoQue estou a perder

Porque eu só estou bemAonde eu não estouPorque eu só quero irAonde eu não vou"

Ana Moura vem a Berlim

Filipe B., 09.12.22

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Como tenho já algumas idas a Portugal planeadas nos próximos meses, lembrei-me de ir pesquisar se algum concerto da Ana Moura calhava numa dessas datas. 

Para minha surpresa, a primeira data que me aparece é Berlim! Nem hesitei e comprei logo dois bilhetes.

Um para mim e outro para o P., que, não sendo português, também já se rendeu ao fado.

Tudo começou, mais ou menos, quando saiu a "Andorinhas". Obriguei-o a ver o videoclip comigo... várias vezes. Depois, sempre que íamos a Portugal em visita, a música tocava em todo o lado e foi ficando como uma música da nossa união.

No Verão passado dei por ele a ouvir, de sua vontade, uma playlist de fado no Spotify e fiquei muito orgulhoso da nossa cultura. É engraçado que ele, naturalmente, não percebe nada das letras mas gosta de ouvir (pesca algumas palavras portuguesas que lhe ensinei, mas estas não são muito usadas em canções de fado...)

Mas isto funciona para os dois lados. Também eu já absorvi algumas coisas da cultura dele, a polaca, como comer muito bem e de tudo ao pequeno-almoço e menos à noite (sim, a comida é importante nas duas culturas, mas digamos que as quantidades variam muito conforme os horários).

E dizia eu: Ana Moura vem a Berlim.

O meu Portugal, o meu Ribatejo, o meu fado, vêm à minha cidade.

Ando viciado no álbum "Casa Guilhermina", que no fundo foi um redescobrir do fado para mim. E sim, também obriguei o P. a ver comigo o videoclip do "Arraial triste" enquanto lhe explicava todas as referências visuais e rítmicas à cultura do meu lindo Ribatejo (nascido e criado ao som do fandango, ah pois fui). 

E aqui devo confessar outra coisa. Um dos artistas que mais ouvi no ano passado, segundo o meu Spotify e eu confirmo, foi o Pedro Mafama. Descobri o seu "Por Este Rio Abaixo" e há muito tempo que a sonoridade e poesia de um álbum não agarravam assim em mim.

Honestamente, desconhecia que a Ana Moura e o Pedro Mafama fossem um casal (não sou muito dado à vida mais pessoal dos meus artistas), mas basta ouvir o "Casa Guilhermina" para perceber de imediato que tantas faixas respiram ares das composições do Pedro (um produtor do caraças!).

E lá vamos então os dois, eu e o P., a 18 Janeiro ao Festsaal em Kreuzberg ver a rainha do fado moderno. Já o avisei que há um certo risco de eu me emocionar bastante nessa noite (basta ouvir uma guitarra a cantar, não é?).

Estou ansioso que chegue o dia. 

Traz tu também o Pedro, Ana. E cantem lá qualquer coisinha juntos. Se não for pedir muito. 

 

Primeira neve do ano em Berlim

Filipe B., 20.11.22

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Primeira neve do ano em Berlim!

Ou primeira neve deste Outono/Inverno, se quisermos ser mais precisos, pois lá no início de Janeiro bem nevou por aqui também.

Mas, para esta estação pós-Verão, este manto branquinho chegou bem cedo para o habitual.

Sinto-me sempre criança quando vejo os primeiros flocos de neve a cair. Talvez porque em criança não tinha isto.

Como é bom sermos assim relembrados de pedacinhos da nossa reconfortante inocência. 

Ela chega sempre. E às vezes quando não se espera. Como a neve. 

Mil vezes passar o Inverno em Berlim

Filipe B., 22.01.22

Fotos recentes da minha rua

Fotos recentes da minha rua em Berlim

 

Pois é, nunca pensei dizer isto. Quando me mudei para a Alemanha, toda a gente me dizia "Ai... e o frio?".

Também eu temi, claro. Habituado que estava a um clima mediterrânico, assustou-me um pouco esta ideia de passar invernos com neve e gelo.

Mas hoje digo: mil vezes passar o Inverno em Berlim do que em Portugal.

É simples. 

Frio na rua, quente dentro de casa.

E, sim, é essa a única razão. Não tenho saudades nenhumas de ter de usar 3 camadas de roupa à hora do jantar lá na minha casinha portuguesa. Sim, sim, a gente tem lá uma lareira, pois temos. Mas e as outras divisões? O gelo siberiano que se sente no corredor, longe da lareira, a caminho do quarto... tremo só de lembrar.

E o amontoado de roupa de cama que usava só para não ter frio de noite? Até pesava nos ossos. 

É verdade que aqui temos a vantagem do aquecimento central, presente em todas as casas, mas não é só isso. É a construção, penso eu, e os especialistas dirão melhor. É a construção, e o isolamento, que mantêm o calor dentro dos edifícios. Em Portugal, a lareira aquece, mas assim que se apaga, o frio vem logo. 

Enquanto escrevo isto, por acaso, tenho aqui a janela da sala entreaberta (gosto de ar fresquinho de vez em quando), visto uma t-shirt e um casaco desportivo fininho e não tenho frio nenhum cá dentro. Note-se que ainda ontem tínhamos a rua coberta de neve... e as noites chegam aos graus negativos!

O bem-estar que este conforto dentro de casa nos dá, no Inverno rigoroso, não tem comparação.

É por isso que vou muito pouco a Portugal nesta altura do ano. Desabituei-me desse desconforto. Não é à toa que todos os estudos apontam o nosso cantinho lusitano como um dos países onde as pessoas passam mais frio dentro de casa nesta altura do ano, ora vejam aqui

Sendo assim, prefiro ir na Primavera, ou nos finais do Verão, quando as multidões já deixaram as praias em sossego. 

E já conto os dias para lá chegar.

Por agora cá fico no inesperado calor de Berlim. 

Pessoa em Berlim

Filipe B., 23.04.21

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Ando a ler o Livro do Desassossego.

Continuo também nas aulas intensivas de alemão. São 3 horas por dia, por isso, no fim das aulas, vou sempre dar uma volta de bicicleta pela cidade e ponho-me a ler Fernando Pessoa (ou Bernardo Soares) num parque ao final da tarde. 

Parques enormes, muito verdes e variados é o que não falta aqui em Berlim, felizmente.

Ler filosofia pode realmente tirar-te do teu lugar, mexer em pensamentos tão profundos e mudar a tua perspectiva sobre tanta coisa. E isso é fantástico.

Ontem, enquanto lia sozinho ao Sol no parque, senti isso e ao mesmo tempo senti também que precisava de um pouco de realidade para assentar novamente. 

Quando estava a chegar a casa, do nada, o meu amigo ligou-me e apenas perguntou "Pizza?".

E ali estava, aquele pedaço de realidade de que eu precisava.

Algumas coisas não têm explicação.  E por vezes é melhor assim.

Acabámos por ter uma conversa muito profunda, enquanto comíamos as nossas pizzas num parque já para lá do crepúsculo, porque, claro, até a realidade tem limites.