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O blog do Fi

um português em Berlim

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Na terra e no céu

Filipe B., 04.12.20

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"(...) ver os aviões levantar voo

A rasgar as nuvens

Rasgar o céu"

 

Nunca esta música dos Azeitonas me deixou tão melancólico. Explico porquê. 

2020 tem sido... bem... 2020. E os últimos meses têm sido uma luta constante no que diz respeito ao meu emprego. Desde Julho que não voo. E reparem: não disse trabalhar. 

Quando escolhi ser comissário de bordo, não o fiz só pelo dinheiro, mas porque ainda antes de a ter já sabia que ia apaixonar-me por esta profissão. E assim foi. Claro que me deu uma maior estabilidade financeira, mas mais do que isso deu-me o conforto de ir trabalhar feliz e orgulhoso do que tinha conquistado (não pensem que o curso que fazemos é pêra doce!).

Este ano mudou tudo e, arrisco-me a dizer, o sector do turismo foi o mais afectado. E sem turismo, como sobrevive a aviação por estes dias?

É óbvio que quem viaja não o faz só por lazer e, sim, nós temos muitos passageiros business. Mas com tantas restrições nas viagens, até isso foi por água abaixo.

Os despedimentos foram inevitáveis, não digo o contrário.

Mas não desejo a ninguém o que passámos nos últimos dias. Sabia que as cartas de um despedimento em massa iam chegar nesta semana. O primeiro aviso caiu quando uma colega me escreveu "Chegou a minha carta, fui despedida". E a partir daí choveram mensagens, despedidas e apertos no coração. Mal dormi no primeiro dia, fui ver a caixa do correio já nem eu sei quantas vezes nos dias que se seguiram (às tantas já era automático), e por fim os dias foram passando e tinha terminado. Tinha terminado! As cartas pararam de chegar e eu fiquei.

Sobrevivi.

E acreditem que é essa a expressão que usamos quando nos dirigimos a colegas com a preocupação de saber se ficaram ou se vão embora. "Sobreviveste?".

Obviamente que fiquei aliviado, mas não deixa de ser um contentamento agridoce, pois tenho que me despedir de tantas pessoas que realmente estimo e que fizeram ainda melhores os meus dias no trabalho. Por outro lado sei também que isto me dá só mais uns meses de alívio e que no próximo ano, conforme a situação global avançar, isto pode melhorar ou piorar. Seja como for, já nada será igual. E o meu maior medo agora é perder aquele gosto que tinha quando ia voar.

E reparem. Não disse trabalhar. 

Espero com todas as forças que esta turbulência passe, que isto melhore e que tudo fique bem (afinal andamos desde Março a dizer que vai ficar tudo bem, não é?).

A esperança, essa, ainda voa. 

 

 

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