A conspiração dos mares
Antes de falar sobre o Seaspiracy, o documentário propriamente dito, sinto que devo apresentar-me um pouco. Não quero que me acusem de hipocrisia.
Não posso dizer que sou vegetariano, mas deixei de comer carne há 5 anos. Quanto ao peixe, já estive 1 ano sem comer e não senti falta nenhuma. Aliás, nestes mesmos 5 anos, posso contar pelos dedos as vezes em que isso aconteceu. Quando estou em Berlim, nunca como peixe, mas admito que em Portugal é muito difícil resistir a isso. E agora já começamos a entrar mais no que o documentário aborda, porque sempre o fiz achando que teria acesso a peixe de maior qualidade e com menos peso nas questões ambientais (um erro tremendo, como entenderemos).
E outra coisa. Não estou aqui para dizer que sou melhor que ninguém. Sim, é que sinto muito isso quando falo nestas coisas a alguém que, por exemplo, nunca deixou de comer carne. Não, eu não estou a calcar a vossa culpa, nem é esse o meu objectivo. Cada um tem o seu ritmo para lá chegar e cada qual encontrará em determinado momento a força necessária para fazer mais pelo planeta. Quem me diz a mim que alguém que coma carne não faça mais do que eu, por exemplo, nas questões da reciclagem, etc, etc.
E agora directo ao ponto. Sim, o Seaspiracy é chocante e violento, ao ponto de me fazer virar a cara duas vezes para não ver, nomedamente numa cena com golfinhos logo ao início e noutra com caça de baleias. Demasiado violentas e revoltantes. Mas ainda assim, não o achei tão chocante noutros aspectos como o Cowspiracy ou o What the Health, outros documentários do mesmo produtor. Refiro-me mais às revelações de que certas companhias ditas "pró consumidor" são completas farsas (quem viu os outros dois documentários já está mais por dentro destes esquemas). Esta é aquela a que eu chamo a trilogia dos horrores. E talvez por já ter sido exposto a tantas revelações chocantes nesses dois documentários, o Seaspiracy veio mais como mais uma confirmação de que realmente o Homem foi a pior espécie que a natureza criou. Parece que só sabemos destruir. Em nome do dinheiro, de um capitalismo sem limites, destruir, destruir, tudo pelo lucro, sem olhar para o ambiente, para a dor que se causa nos animais, ou mesmo para o futuro... sem pensar nas gerações que virão e às quais deixaremos este planeta. Em que estado?
Achei, no entanto, que tentaram passar demasiada informação em pouco tempo. Algumas coisas podiam ter sido mais aprofundadas, como a caça das baleias ou as cenas sobre os escravos da pesca. Honestamente, do ponto de vista jornalístico, achei as entrevistas sobre a escravatura com pouca investigação ou "provas", foi tudo muito rápido na edição. Não estou a dizer que não acredito que seja verdade, porque acredito, mas é algo em que os negacionistas (que os há em todo o lado) podem pegar facilmente para tentar deitar abaixo o resto do documentário.
Mas ainda tenho muito a reflectir sobre o que vi.
Isto causa muita revolta.
Como vos disse, vou fazendo o que posso. E cada vez sinto que faço muito pouco.
Em 2015, depois de ver o Cowspiracy, deixei imediatamente de beber leite. Por acaso já desconfiava que o leite não me fazia muito bem e as mudanças a nível da minha digestão foram logo notadas. Um ano depois deixei a carne de vez. Hoje em dia, e principalmente porque vivendo em Berlim isso é tão fácil, a maior parte das minhas refeições nem são vegetarianas, mas mesmo vegan. E o meu estômago agradece-me sempre.
Aqui não conduzo carro e, desde que tenho a minha bicicleta, é raríssimo sequer usar transportes públicos. Menos um a contruibuir nessa faixa da poluição.
Separo o lixo, como é minha obrigação.
Uso champôs sólidos e sabonete, para evitar o plástico excessivo (e mesmo assim é chocante a quantidade de plástico que gasto por semana!).
Às vezes penso que custaria menos se todos fizessem um pouco. Aqui e ali, mudar qualquer coisa, reduzir o consumo da carne, do peixe.
Mas infelizmente parece já tarde para isso.
Se ainda não viram, vejam este documentário, mas não deixem de ver também os outros dois.
Dominion, Earthlings (outros em que tive que tapar os olhos várias vezes) e Game Changers são outros, dentro do tema, que vos podem interessar. E mais haverá. Sugiram nos comentários se se lembrarem de algum.