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O blog do Fi

um português em Berlim

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Revelação do título e capa do livro

Filipe B., 03.10.23

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E aqui está.

Entre as Mulheres é o título do meu novo livro.

Já disponível em pré-lançamento nas livrarias Wook e Bertrand

E é esta a sinopse: 
"Por que motivo tinha o David uma obsessão tão forte com as sextas-feiras, as visitas ao museu e a cor laranja?

Todas as sextas-feiras Marta veste, por exigência do filho, a mesma camisola laranja. Assim o leva sempre a visitar o mesmo museu, de onde uma enorme janela lhes dá vista para um misterioso casarão. Cumprem esse ritual desde que Simão decidiu desaparecer, incapaz de compreender o autismo do filho, deixando-a sozinha com o menino de 8 anos.

Quando a escola suspende as aulas de ensino especial por falta de verbas, o desespero bate à porta. Marta encontra numa associação de voluntários a solução de apoio para os estudos do filho. O voluntário Mateo entra assim na vida de David como professor, trazendo ensinamentos e transformações que ninguém esperava. Também a passagem do tempo arrasta mudanças e Marta sabe que alguns segredos não poderão ser escondidos para sempre. Até onde irá uma mãe para proteger um filho?"

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A capa bonita criada pela editora Intelectual.

Estou ansioso que leiam este livro, para que possamos discutir o que realmente significa a história de Marta e da sua coragem. 

Primeiro olhar ao novo livro

Filipe B., 28.09.23

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Posso finalmente partilhar mais sobre o meu novo livro.

Esta é a história de Marta e do seu pequeno David. Um olhar sobre o autismo. Uma história de coragem, resiliência e superação.

Estou ansioso para que possam ler e descobrir este livro, que foi fortemente inspirado pelo meu projecto do Serviço Voluntário Europeu, quando trabalhei em Itália como voluntário num Centro Educativo para crianças com necessidades especiais.

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Em breve revelaremos o título e a data de lançamento.

 

Acordar num lugar novo

Filipe B., 17.09.23

imagem do mar báltico

o mar báltico, foto: Filipe Branco

Gosto muito de viajar sozinho e já o confessei aqui muitas vezes.

Também gosto de viajar acompanhado. Aliás, vivi grandes aventuras com outros companheiros de viagem.

Só que partir sozinho para um sítio desconhecido tem sempre algo de redescoberta. Um cliché sempre que se fala de viagens, bem sei.

Mas acordar só num lugar novo, numa cama de hotel que nos é estranha, traz sempre consigo infinitas possibilidades. Não há ninguém connosco. Ninguém sabe quem somos. Podemos até ser bem quem nós quisermos, sem amarras, sem obrigações sociais. Se nos perguntarem algo sobre nós e se, por acaso, não dissermos a verdade, isso nem sequer é mentira, pois essa verdade nem sequer existe.

Desta vez vim para Riga, a bonita capital da Letónia. 

No terceiro dia fui finalmente a Majori, a vila costeira, para ver o mar báltico pela primeira vez. A tranquilidade, o sossego daquelas águas, trouxeram uma dose de calmaria. 

Era para ficar menos tempo, mas deixei-me por lá estar umas belas horas. Estava bom tempo. O Sol convidou-me a ler deitado na areia e assim fiz. O silêncio das águas a embalar-me.

Quando mais tarde regressava a Riga no comboio regional que já viu melhores dias, era outro. 

Encontrei uma editora para o meu livro!

Filipe B., 17.08.23

livro aberto sobre nesa

imagem: Pixabay

E é isto. 

Encontrei, finalmente, uma editora para o livro que acabei de escrever há 2 anos.

Desde 2021 que fui tentando. Tive algumas propostas, mas não do meu agrado. Duas dessas propostas eram das tais editoras vanityMas, basicamente, essas são editoras que nos pedem dinheiro para publicar e que, pior ainda, fazem um trabalho terrível de revisão.

Depois tive também dois não, mas agradeci a resposta e o profissionalismo ao explicar a decisão, pois outras editoras nem responderam. É assim. Faz parte. Nunca deixei que isso me contaminasse e deixasse parar. Não guardo rancores. 

E assim, um pouco sem já esperar, surgiu uma proposta de edição que vai ao encontro do que eu procurava. 

É a Intelecutal Editora.

É uma editora pequena (e a equipa foi muito sincera ao comunicar-me isto), mas mostrou respeito pelo meu trabalho, não me pediu somas exorbitantes para publicar aquilo que escrevi com tanto esforço e dedicação, e deixou-me muito feliz ao apostar em mim.

Também sou pequeno. Um autor independente. Somos iguais. No fundo, fiz uma promessa de nos ajudarmos a crescer mutuamente.

Eu gosto muito de trabalhar os meus livros, não só o escrever, mas também tudo o que vem depois, a promoção, as apresentações. E sei que posso trazer esse lado mais dinâmico para aqui.

Não posso partilhar muito para já.

Mas devia-vos isto. Tinha de vir aqui partilhar esta coisa boa.

Ansioso para que possam ler uma história que escrevi do fundo do meu coração.

 

A oliveira de Saramago

Filipe B., 21.12.22

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Hoje visitei a casa de Saramago em Lanzarote.

Quando digo que Saramago é o meu escritor preferido, as pessoas pensam que o é só porque é português ou porque ganhou o Nobel ou porque é ribatejano como eu. E talvez duas destas condições tenham peso na minha preferência, ainda que eu vá sempre negá-lo. Mas inegável é que as nossas vivências comuns nos aproximam. O Nobel é só um prémio. Já Saramago é o meu preferido porque, como nos disse o guia, com as suas palavras eu vejo do que é feita a pedra e não a pedra.

Visitar a sua casa, num lugar tão especial como esta ilha, foi um acto de várias emoções. Começando com o entrar no seu escritório e ouvir "Foi aqui que Saramago escreveu o Ensaio Sobre a Cegueira, primeira obra que realizou em Lanzarote". O Ensaio foi o meu primeiro livro seu, o que me fez apaixonar pelo seu modo de escrever e é hoje um dos meus livros favoritos de sempre. Já aí me caiu tudo, e depois o estar ali no meio dos seus livros, procurando o que lia. E sim, passei bastante tempo a tentar descobrir o que lia afinal o homem que escreveu "O Ano da Morte de Ricardo Reis" (provavelmente o seu livro meu favorito). E então vejo essa mesma obra na estante, ainda com marcadores e anotações do escritor. Um tesouro diante dos meus olhos, que já brilhavam. Incredulidade. Uma sensação indescritível.

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Mas foi no jardim que caí por terra, quando me contaram a história das oliveiras que trouxe do seu Ribatejo (e outra do Alentejo) para a ilha que o acolheu. Foi aí que chorei. Diante do mar, lá ao fundo. Quem já viveu fora do seu país, como eu vivo, sabe bem que passamos a vida a levar oliveiras na bagagem, atrás de nós, connosco, um bocadinho de casa sempre que se parte e reparte. Uma esperança de que estas cresçam no lugar aos quais queremos chamar casa também. No final, sem ar, arrebatado, sentei-me no jardim de Saramago e escrevi.

Que mais poderia eu fazer? 

Ana Moura vem a Berlim

Filipe B., 09.12.22

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Como tenho já algumas idas a Portugal planeadas nos próximos meses, lembrei-me de ir pesquisar se algum concerto da Ana Moura calhava numa dessas datas. 

Para minha surpresa, a primeira data que me aparece é Berlim! Nem hesitei e comprei logo dois bilhetes.

Um para mim e outro para o P., que, não sendo português, também já se rendeu ao fado.

Tudo começou, mais ou menos, quando saiu a "Andorinhas". Obriguei-o a ver o videoclip comigo... várias vezes. Depois, sempre que íamos a Portugal em visita, a música tocava em todo o lado e foi ficando como uma música da nossa união.

No Verão passado dei por ele a ouvir, de sua vontade, uma playlist de fado no Spotify e fiquei muito orgulhoso da nossa cultura. É engraçado que ele, naturalmente, não percebe nada das letras mas gosta de ouvir (pesca algumas palavras portuguesas que lhe ensinei, mas estas não são muito usadas em canções de fado...)

Mas isto funciona para os dois lados. Também eu já absorvi algumas coisas da cultura dele, a polaca, como comer muito bem e de tudo ao pequeno-almoço e menos à noite (sim, a comida é importante nas duas culturas, mas digamos que as quantidades variam muito conforme os horários).

E dizia eu: Ana Moura vem a Berlim.

O meu Portugal, o meu Ribatejo, o meu fado, vêm à minha cidade.

Ando viciado no álbum "Casa Guilhermina", que no fundo foi um redescobrir do fado para mim. E sim, também obriguei o P. a ver comigo o videoclip do "Arraial triste" enquanto lhe explicava todas as referências visuais e rítmicas à cultura do meu lindo Ribatejo (nascido e criado ao som do fandango, ah pois fui). 

E aqui devo confessar outra coisa. Um dos artistas que mais ouvi no ano passado, segundo o meu Spotify e eu confirmo, foi o Pedro Mafama. Descobri o seu "Por Este Rio Abaixo" e há muito tempo que a sonoridade e poesia de um álbum não agarravam assim em mim.

Honestamente, desconhecia que a Ana Moura e o Pedro Mafama fossem um casal (não sou muito dado à vida mais pessoal dos meus artistas), mas basta ouvir o "Casa Guilhermina" para perceber de imediato que tantas faixas respiram ares das composições do Pedro (um produtor do caraças!).

E lá vamos então os dois, eu e o P., a 18 Janeiro ao Festsaal em Kreuzberg ver a rainha do fado moderno. Já o avisei que há um certo risco de eu me emocionar bastante nessa noite (basta ouvir uma guitarra a cantar, não é?).

Estou ansioso que chegue o dia. 

Traz tu também o Pedro, Ana. E cantem lá qualquer coisinha juntos. Se não for pedir muito. 

 

A culpa

Filipe B., 03.12.22

Eu em Berlim

Escrevo isto depois de ter visto este vídeo da Uyen Ninh

Ela tornou-se famosa no Tik Tok e Instagram por fazer vídeos sobre a sua vida de emigrante na Alemanha. E 99% dos vídeos são piadas sobre o choque cultural, o mau humor dos alemães, etc, mas de vez em quando vem um vídeo destes que nos faz reflectir. 

Ela fala da culpa. Ou melhor, ela refere-se ao sentimento de culpa por vivermos num país com melhores condições a nível social, da saúde, da educação, quando sabemos que as pessoas que deixamos para trás vivem em condições piores. E no meu caso, atentem, estou a falar de dois países europeus (Portugal e Alemanha) que, em muitas coisas, não estão assim tão diferentes. A Uyen vem do Vietname e não se pode comparar, com a minha, a enorme diferença que haverá no caso dela. 

Mas sim. Ainda há muitas diferenças. Dou um exemplo. Neste momento, como já sabem pelo que contei no blog, estou desempregado, porque fiz um acordo com a empresa, perante novos despedimentos, e saí. A tranquilidade e segurança que sinto agora e o apoio que tenho a nível monetário e em relação aos meus futuros estudos nunca existiu quando, por razões bem mais injustas, fiquei desempregado em Portugal. Lá foi dramático, depressivo, tive que depender dos meus pais.

Podia agora escrever 10 mil palavras sobre como os direitos dos trabalhadores são realmente importantes aqui... mas vá.

E portanto, sim, também me passa pela cabeça muitas vezes esse pensamento. A culpa é real.

Depois, para me tranquilizar, digo sempre a mim mesmo "Tu também sacrificaste muitas coisas para ter isto": o bom tempo e o Sol do teu país. A comida. O calor do povo. A facilidade de depender SÓ da tua língua materna.

E, acreditem, isto faz tanta diferença no teu dia-a-dia. Até no cansaço, exaustão, isso da língua tem um peso tão grande. Felizmente, graças ao meu esforço, estudo e investimento em escolas e aulas privadas, isso hoje já é um problema do passado.

Bem, poderia escrever um livro sobre os prós e contras disto tudo, mas fica para outra altura. A culpa que morra sozinha. 

Primeira neve do ano em Berlim

Filipe B., 20.11.22

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Primeira neve do ano em Berlim!

Ou primeira neve deste Outono/Inverno, se quisermos ser mais precisos, pois lá no início de Janeiro bem nevou por aqui também.

Mas, para esta estação pós-Verão, este manto branquinho chegou bem cedo para o habitual.

Sinto-me sempre criança quando vejo os primeiros flocos de neve a cair. Talvez porque em criança não tinha isto.

Como é bom sermos assim relembrados de pedacinhos da nossa reconfortante inocência. 

Ela chega sempre. E às vezes quando não se espera. Como a neve. 

100 anos de Saramago

Filipe B., 16.11.22

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Há 100 anos nascia o mestre e um dos melhores e maiores escritores que este mundo já viu escrever.

Nasceu numa pequena aldeia no Ribatejo.
Deu-me alguns dos meus livros favoritos de sempre, como "A Jangada de Pedra", "Ensaio Sobre a Cegueira', "As Intermitências da Morte" e "O Ano da Morte de Ricardo Reis". Só para citar alguns.


É absolutamente, e sem qualquer dúvida, o meu escritor favorito. E é, por acaso, português e ribatejano, como eu. 🤍

Obrigado, mestre.

Viverás para sempre nas nossas estantes, nos nossos corações e na nossa memória.

Em terra também se voa

Filipe B., 01.11.22

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Hoje seria o meu primeiro dia como desempregado aqui em Berlim (e é), mas como eu não tenho um minuto de descanso, lá fui conhecer a minha nova escola e assinar o meu contracto para os estudos (foi mesmo uma coincidência). A minha avó sempre me disse "Tu és incansável, tu chegas a todo o lado". E ela tinha tanta razão. Ontem às 9 da manhã entrei na sala de reuniões da agência de emprego (como se diz aqui).

Ia todo nervoso, por ter que falar só alemão, mas como o stress e os nervos às vezes dão um impulso necessário, lá falei e em menos de 1 minuto já tinha convencido a minha responsável de que queria mesmo mesmo mesmo fazer este curso. E foi assim, até falando o meu alemão cheio de erros, que, confiante, cheguei e consegui o que queria. De Comissário de Bordo a Web Developer (ou programador) é uma distância do caraças!

Mas eu também nunca tinha sonhado ser Comissário de Bordo e fui. Tal como nunca tinha pensado viver em Itália e vivi. Tal como nunca tinha imaginado sair do meu cantinho encantado e saí. E os meus pais bem dizem e repetem. "Tu desde que saíste de casa aos 18 anos para ires para a Covilhã, nunca mais ninguém te parou". Um explorador é assim, por mais que explore, nunca dá a exploração por concluída. E se há coisa que a pandemia e o mercado de trabalho capitalista e devorador que nós temos me ensinaram é que a vida é muito curta para se ser só uma coisa. E eu já fui tantas, graças a deus, e sinto-me feliz por encontrar satisfação em tentar sempre algo novo e em não me conformar facilmente. E como me disse a minha responsável lá no centro de emprego: "Agora são... novos voos. E em terra também se voa".

Também não foi só merito meu, tive sorte com quem me calhou. Uma senhora adorável e prestável. E vá, antes de começar o curso, para a semana vou de férias, que bem mereço. No final das contas tenho muito a agradecer a todo o apoio que tive, de amigos, família, profissional (terapia foi essencial neste processo horrível e longo dos despedimentos na empresa), e ontem e hoje tive tanto orgulho em mim e em nós e no que conseguimos fazer.