Um videojogo fez-me ir a um concerto: a violência
Acabo de comprar bilhetes para o concerto dos Low Roar em Berlim, banda que descobri graças ao videojogo Death Stranding. As músicas da banda foram escolhidas para este jogo pelo mestre e criador Hideo Kojima.
Admito que desconhecia a banda até ter começado a jogá-lo há cerca de 3 semanas.
Feliz por ter conseguido esse dia de folga e por ter comprado o meu bilhete, venho às redes sociais para partilhar o alegre acontecimento e deparo-me com uma notícia (e revolta geral sobre a mesma) que está completamente do outro lado desta questão.
Escreveu alguém, um jornalista (suponho), que o rapaz detido pelo planeado ataque à Universidade de Lisboa era "viciado em videojogos". É dada essa informação como se fosse uma justificação. "Estão a ver? Ele era viciado em videojogos, por isso se tornou violento", parece o autor desse título querer dizer-nos.
Aliás, esse é um preconceito há anos repetido e repisado pelos média em geral.
Ora, estou eu com os bilhetes para um espectáculo musical na mão, contente por ter mais um acontecimento cultural nesta vida de recentes isolamentos e eventos cancelados, e nada disto me faz sentido. Onde está aqui a violência?
Mais vos digo. Poderia escrever uma lista extensa, mas fico-me pelos primeiros videojogos que me vieram à cabeça.
"Hellblade: Senua's Sacrifice" fez-me ler mais sobre saúde mental e terapia (num momento em que eu próprio pensava regressar às sessões com a minha terapeuta). Este jogo foi desenvolvido em conjunto com uma equipa de psicólogos e psiquiatras que ajudaram na criação de uma abordagem à saúde mental o mais real possível, sem cair nos estigmas do costume.
"God of War" (2018) fez-me interessar mais pela cultura nórdica. Por causa deste jogo pus-me a ler mais livros sobre o tema. Foi por isso que comprei e li o livro "Mitologia Nórdica" do Neil Gaiman. Cultura gera cultura, ou não?
"Assassin's Creed II". Este então é uma autêntica lição de história sobre o renascimento italiano (ou Renascença) e a cidade de Florença como palco da arte e desenvolvimento desse período da história. Foi sobretudo graças a este jogo que quis visitar Firenze. E depois disso voltei lá umas 5 vezes. Também por causa deste jogo pus-me a ler "O Príncipe" do Maquiavel (pois este aparece como personagem no jogo).
Mas sim, os videojogos tornam-nos muito violentos. Sem dúvida nenhuma.
Ou então são os jornalistas que escrevem estas peças sem qualquer reflexão ou peso na consciência que nos tornam assim um bocadinho violentos, nem que seja num descarregar mais agressivo no inocente teclado deste meu computador, coitado, que não tem culpa nenhuma da imbecilidade de certas pessoas.
Ora, fiquem lá com uma bonita música dos Low Roar, a ver se nos acalma.