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O blog do Fi

um português em Berlim

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O Clube da Felicidade deixou-me triste, mas não faz mal

Filipe B., 27.10.21

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Peço desde já desculpa ao Carlos Coutinho Vilhena se lhe vou carregar ainda mais na angústia de criador, mas tenho que dizer isto. O "Clube da Felicidade" é uma obra-prima.

E não há cá hipérboles.

Para os mais distraídos, o "Clube da Felicidade" é uma série com 5 episódios que foram saíndo no Youtube entre Junho e Outubro deste ano.

Eu já tinha ficado rendido a "O Resto da Tua Vida", mas desta vez o Carlos Coutinho Vilhena superou-se em tudo. 

Digo-o sem exagero nenhum. Foi a primeira vez que me levantei do sofá da sala e aplaudi de pé um vídeo do Youtube. Isto é tão bom. Acreditem. Não quero descrever demais, porque acredito que ir às cegas torna a experiência muito mais intensa, mas vou deixar algumas palavras me tentar justificar.  

O "Clube da Felicidade" aborda um tema central que é a angústia de criar algo novo e bom (com público, de preferência), neste caso do ponto de vista do autor (o Carlos). E nessa viagem ao longo destes 5 episódios, embora a comédia e certos convidados apareçam ali para criar uma certa leveza em temas tão profundos, somos levados a reflectir sobre esse medo de se ficar sem ideias boas, sobre a possibilidade de falhar e desiludir quem espera uma obra em condições. É tudo sobre a pressão. A pressão.

Eu, que escrevo, vi-me ali muitas vezes. E foi difícil, mas tão necessário. Deixou-me triste, mas não faz mal.

Quantas vezes não olhei para algo que tinha acabado de escrever e pensei que tinha ali algo tão bom para, daí a uns dias, voltar a ler e ficar desiludido com a valente merda que tinha escrito. 

Mas não pensem que isto é uma série que vai só reflectir as mentes complexas de artistas e companhia.

Não.

Vocês vejam. 

Há ali uma reflexão superior e cada um de nós irá encontrar um pouco de si mesmo nesta obra. 

É por isso que ela é excelente, porque tem várias camadas, porque de uma ideia fracassada chega a um final apoteótico em que a "morte do autor" espelha muito mais de ti do que tu esperas. 

 

Squid Game é mau que dói

Filipe B., 24.10.21

Squid Game Frame-2.jpg

Também eu apanhei boleia no comboio do hype e pus-me a ver Squid Game.

Ia no episódio 2 e já me apetecia desistir, mas não me dei por vencido e lá vi o jogo até ao fim.

Infelizmente, a cada episódio as coisas (e o sentido da série) só pioraram. 

Squid Game é mau que dói.

Tem maus actores, mas mesmo maus (o episódio VIPS é difícil, tão difícil de ver exactamente por isto).

A audiência é muitas vezes tratada como se fosse um grupo de miúdos de 9 anos, tanta é a exposition (exposição?) em certas cenas. Isto acontece quando personagens "repetem" o que se passa em cena mas através de diálogos, como se nos estivessem a narrar o que acabou de acontecer... como se fôssemos muito pouco inteligentes para o percebermos pela nossa própria cabeça. 

Nem vou desenvolver sobre as falhas gritantes no argumento, mas deixem que vos diga que também gostava de ter um smartphone que por lá anda e que, por sinal, tem uma duração de bateria jamais vista neste mundo. 

Depois os plot twists ou são óbvios demais ou não fazem sentido nenhum e só estão ali pelo choque (Olá filmes do SAW!).

O que me custa é que a ideia inicial até é boa. E estava mesmo convencido de que ia gostar. Outras obras coreanas, como o filme Parasite e A Vegetariana (livro) já me mostraram como eles são bons a criar histórias com altos valores de choque social, mas com muita, muita qualidade pelo meio. Não foi este o caso.

E custa-me também ver outras séries tão boas serem ignoradas e outras terem tanto hype, sendo tão más.

Fez-me lembrar aquela série da mesma plataforma e em que, curiosamente, também andavam com uns macacões vermelhos. 

E eu entendo porque ambas fizeram tanto sucesso. São extremamente fáceis de ver, não se tem que usar muito a cabeça para entender o que se passa (ainda por cima quando o argumento usa e abusa da tal exposition), ambas vivem do hype, dos memes e do imediatismo das redes sociais. 

E é isso.

Muito hype, pouca uva.