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O blog do Fi

um português em Berlim

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A barragem

Filipe B., 15.08.21

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Há coisas inexplicáveis que nos surgem quando menos esperamos.

Foi ao dar um mergulho nas águas mornas do mar Egeu na ilha de Kos (Grécia) que me veio à mente um lugar que marcou a minha adolescência.

A barragem de São Domingos no Alqueidão, a aldeia onde cresci.

Ali estava eu, num mar paradisíaco, em mais uma das minhas viagens que tanto gosto de fazer sozinho e, do nada, vieram-me aquelas tardes dos verões quentes na barragem com os meus amigos.

Ao início não entendi por que me surgiam agora aquelas lembranças, mas enquanto nadava no mar grego houve coisas que me começaram a fazer sentido.

A barragem lá na nossa aldeia, à primeira vista, não tinha nada de paradisíaco. A água era fria e enganava porque, ao entrar, primeiro parecia quente mas, conforme se ia ao fundo, arrepiava a pele.

Depois de alguns mergulhos ficava suja, porque a terra no fundo não gostava de ser remexida. E nenhum de nós saía de lá sem os pés cheios de lama.

E era perigosa, diziam. Lá para o meio da barragem não se via o fundo, porque as águas verdes e espessas não o permitiam. Dizia-se até que já ali morrera um rapaz. Seria verdade? E claro que os nossos pais não viam com bons olhos aqueles banhos, mas numa altura em que tínhamos tanta liberdade, por vezes saíndo de casa de manhã para voltar só ao anoitecer, era muito fácil enganá-los.

Ai... tantas vezes que menti à tia Bia quando ela nos perguntava: "vocês não foram à barragem, pois não?".

Mas todos sabiam que lá íamos e a mentir lá dizíamos a verdade e estava tudo bem.

E para nós era como se fosse o paraíso. Numa altura em que até o mar do Algarve nos parecia longínquo, quanto mais o da Grécia, aquela barragem era o nosso oceano e a nossa praia.

Até chegamos a construir uma jangada com barricas e paletes, que não durou nem 3 minutos, desfazendo-se rapidamente assim que a pusemos a boiar na água. Mas durante o tempo que durou, essa jangada foi um género de sonho que nós tínhamos em sair dali e navegar por outros mares.

Não era um sítio que alguém fosse usar num postal turístico, mas era sem dúvida o nosso lugar favorito naquela altura. E tão bonito que este era (ainda é).

Quando dei aquele mergulho no mar quente da Grécia, por momentos, voltei a ser aquele menino na aldeia e, aqui vos digo, emocionei-me e agradeci muito pelas oportunidades que tenho em viajar pelo mundo, para além da minha querida barragem.

Mas esta vai sempre comigo, dentro da mala. Foi a barragem, aquele lugar e a sua simplicidade que me ensinaram a apreciar as praias mais bonitas da vida. E é tão bom sentir-me grato pelas coisas simples que a vida me deu. 

Aquele menino fez-se homem, mas não deixou nunca de levar consigo esses ensinamentos que, na altura, nem sabia ter ganho.

Dava tudo para voltar a uma dessas tardes de Verão com os meus amigos da infância e nadar lá mais uma vez, sem medos.

E vocês vejam lá. Foi no mar grego que tanto adorei, por ser tão lindo e incomparável, que me veio este desejo.

Já o Fernando Pessoa dizia:

"As viagens são os viajantes.

O que vemos, não é o que vemos, senão o que somos".

 

Obrigado Rita, Raquel Luzio, Sara Mendes, Sara Luzio, Márcia Presume e Ricardo Rodrigues pelas fotos que me fizeram chegar deste lugar tão especial para todos nós. Vejam as fotos na galeria. Para os interessados, a barragem de São Domingos fica num lugar lindíssimo mesmo no sopé da Serra D'Aire na aldeia de Alqueidão, concelho de Torres Novas. 

 

Final de tarde na Grécia

Filipe B., 08.08.21

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Admito que me emocionei hoje neste final de tarde na ilha de Kos. Nadar neste mar de águas mornas com um pôr-do-Sol tão bonito foi qualquer coisa de transcendente.  

Este mundo é tão bonito e nós só o sabemos destruir. Reflecti muito sobre isso na praia. Talvez porque me bastou a natureza hoje para me fazer tão feliz naquele lugar. 

Mais vos contarei sobre isto e sobre esta curta escapadinha a um dos meus países favoritos. 

Por agora vou aproveitar mais enquanto posso.