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Estava com o P. ao telefone, falando inglês, que é a língua que nos une (nem eu falo polaco, nem ele fala português). Nisto o meu amigo D. ligou. Falámos em italiano, porque é a sua língua materna, que eu também domino. Quando desliguei, respondi a uma mensagem da minha irmã em português, claro.
Isto tudo no espaço de 10 minutos.
Acho que chega para vos dar uma ideia da confusão linguística que às vezes me vai na cabeça. Mudar tão rapidamente de língua para língua tem dado alguns resultados cómicos. A minha irmã que o diga. No outro dia, eu nem sequer me lembrava como se dizia frigorífico em português. Frigorífico, minha gente!
Bem, o italiano aprendi-o no ano que vivi em Itália. Aprendi quase tudo por mim e falando com os outros. Boa sorte a tentarem falar em inglês com alguém em Itália... é mesmo: ou aprendes italiano ou praticamente não falas. Felizmente, depois de já lá viver há 3 meses, tive uma dúzia de aulas só para estudar um pouco de verbos, etc, e isso ajudou bastante.
Lá vivia com dois colegas espanhóis durante 10 meses e, mesmo sem me aperceber, ao mesmo tempo fui aprendendo tanto dessa língua.
Quando comecei a trabalhar como comissário de bordo, o meu espanhol, nos voos com destinos ao nosso país vizinho, começou a sair naturalmente e, tendo ainda mais colegas espanhóis, foi uma questão de hábito. Sejamos sinceros, para um português que já fala italiano, o espanhol é um passeio no parque.
Mas antes disto tudo, muito lá atrás, também estudei 5 anos de francês, e só não o falo porque deixei de praticar, mas entendo tudo quando falam para mim, ou quando leio. Honestamente, deixei de querer praticar esta língua, porque já é confusão a mais com verbos e regras gramaticais de tantos idiomas. E também porque algo mais importante se impôs.
O alemão. O ALEMÃO!
Cheguei à Alemanha há 3 anos. Nos primeiros 10 meses só falava inglês no meu trabalho e, muito sinceramente, porque vivia em Frankfurt e não estava lá muito deslumbrado com o lugar nem com o meu trabalho, tinha poucas ideias de ficar por cá. Por isso nunca achei que devia perder o meu tempo a aprender uma língua tão complicada.
Mas depois veio Berlim, um novo trabalho, e a vontade de ficar cá. Tive aulas, aprendi o básico para o trabalho (cheguei a passar um teste oral do primeiro nível) e quando ia completamente lançado na escola... a pandemia global aconteceu! A escola fechou. As aulas online não eram para mim. O meu futuro aqui e no meu trabalho foi novamente questionado, e por isso pus outra vez o alemão de lado.
Mas há uns meses, farto de estar sem fazer nada e rendido ao aborrecimento do lockdown, inscrevi-me na escola outra vez (só online, claro).
Ontem à tarde encontrei-me com uns amigos e falámos alemão. As minhas frases são básicas, sim, mas já consigo falar tanto e, sobretudo, compreender tão bem. Às vezes ainda me custa a acreditar que cheguei a este nível!
O alemão é mesmo muito difícil. E nada agradável de aprender. E diz-vos isto algúem que já aprendeu 5 línguas... sendo a língua alemã... a sexta! Mas, por acaso, hoje em dia já sinto satisfação em estudar (antes era uma guerra, uma obrigação, um não quero, não me obriguem...).
Mas recentemente também percebi outra coisa. Eu andava a focar-me demasiado no alemão que não falo, nas coisas que ainda não sei dizer, no vocabulário que não tenho. Hoje em dia, se quero dizer alguma coisa, digo-o com as palavras que tenho e, contando que me faça entender, não estou muito preocupado se é a forma mais formal, se é a mais moderna, ou se usei vocábulos tirados dos anos 40 (vocês deviam ver alguns livros de alemão e as coisas que nos ensinam!).
Tinha que perder o medo e a vergonha de falar mal.
Às vezes nem sei explicar bem porque o tinha. Afinal aprendi italiano só pelo falar e com muitos erros gramaticais pelo caminho.
Mas uma coisa vos posso dizer. Nessa aprendizagem em Itália, tive sempre duas coisas a meu favor. Uma, já a revelei, o facto de quase ninguém falar inglês, o que me obrigou a aprender a língua do país e pronto. Aqui em Berlim é muito mais fácil ir pela via do "ah mas toda a gente fala inglês" (mesmo que nem sempre falem!).
Outra, a disponibilidade e a paciência dos italianos que sempre fizeram por me ajudar, mesmo quando o meu sotaque não era perfeito, ou quando dizia um verbo no passado e queria dizer o futuro. Sim, foi muito mais fácil criar amizade com os locais por terras italianas e essa cumplicidade, de querer ensinar e ter tempo para isso, estava lá. O calor dos povos do sul, não é mesmo?
Coisa que nunca senti por parte dos meus colegas e contactos alemães.
E sobre isso poderia escrever um blog inteiro, poderia até tentar explicar-lhes (aos nativos) como isso para mim é tão estranho e como acho que poderiam melhorar tanto no aspecto social... mas hoje vou fazer o alemão e remeter-me ao meu silêncio. Não estou cá para educar ninguém e neste blog fala-se português.
Eles que lutem.
P.S. - Não me ataquem, é só uma brincadeira sobre como certas pessoas aqui se dirigem a nós quando não dominamos esta língua tão lógica, tão bonita, tão amigável e tão fácil de aprender.
P.S. 2 - Vá, vou parar com as ironias. Juro que é desta. Eu no fundo gosto deles. Tschüss, meine Lieben!