E de repente há a possibilidade de testar positivo. 

Deixei-me ficar agora a olhar pela janela por uns momentos e não deixa de ser curioso como, aparentemente, o mundo continua igual como sempre foi.

As folhas continuam a cair das árvores. E o castanheiro, que se ergue alto até à varanda, já não veste o verde de Setembro. O céu pintou-se de cinzento, como se pintaria em qualquer dia de outros Novembros anteriores. Há uma senhora de cabelos brancos que passa a empurrar um andarilho e até ela parece absolutamente banal e despreocupada. Mas sobre nós, aqui do outro lado da janela, dentro de casa, paira o peso angustiante de quem espera pelo resultado, quando os sintomas já nos dão, ou parecem dar, todas as respostas. 

É que ainda há uma chance, mesmo que muito pequenina, de isto ser só uma típica gripe de Outono, não há?

O meu corpo, de noite, disse-me que não. Acordei eram umas quatro e tal e o que o meu corpo sentia era algo que nunca tinha sentido antes. Nem sei descrever. Não era uma febre, nem uma tosse ou uma dor de cabeça, mas uma sensação de algo que se está a apoderar dos teus membros, uma qualquer fraqueza que não se sabe ainda se é fruto do medo (e da ansiedade) ou se é já o tal resultado que teima em chegar ao telemóvel que te olha agora ali depositado sobre a mesa, tão apático e aborrecido como o mundo lá fora.