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O blog do Fi

um português em Berlim

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Praia do Norte

Filipe B., 15.10.20

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De todos os sítios para onde já viajei, acho que a Praia do Norte é aquele onde mais força vou buscar. Quem já esteve de frente à potência daquele mar sabe bem o que quero dizer. Não deixa de ser curioso, corri o mundo e um lugar que conheci a vida toda é onde vou buscar mais ensinamentos.

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Ali somos verdadeiros grãos de areia, tão pequenos e insignificantes, e é impossível não olhar para este 2020 e às lições que nos deu, e que nos está a repetir, sem achar que afinal tudo isto tinha de acontecer. Talvez tivéssemos mesmo de aprender que somos nada neste mundo que não soubemos preservar. Não o estimamos. Não ouvimos os seus gritos. E acredito que a natureza tem um poder imensurável e que nós não conhecemos totalmente. Hoje sentei-me ali na areia molhada de frente ao oceano e o meu primeiro pensamento foi que afinal este ano não foi assim tão mau como nós pensamos. Se aprendemos algo, qualquer coisa ganhámos.

Muita sorte tenho eu, afinal estava ali, numa praia deserta, diante de um mar que tanto assusta, como inspira.

E que ele nos guie no que está para vir.

 

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2020, Anseio do futuro

Filipe B., 06.10.20

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“Díficil de ver, sempre em movimento está o futuro.”

- Mestre Yoda

 

Não é que alguma vez tivesse sido uma dessas pessoas que planeiam tudo ao pormenor para o futuro. Sempre me deixei ir um pouco ao sabor do vento e talvez por isso este já me tenha levado a paragens tão distintas.

Mas acho que podemos todos concordar que 2020 veio mudar a nossa percepção do que é o futuro, do que esperar dele… ou de quanto este pode ser uma surpresa total e… geral.

Mesmo que imprevistos sempre tenham acontecido, pois ainda assim estes nunca foram exclusivos deste ano atípico, havia sempre uma segurança maior quando olhava o horizonte. Via sempre algum plano que me parecia fácil de cumprir.

E talvez os meus planos fossem até muito básicos; alguém dirá supérfluos. Uma viagem ali. Um concerto aqui. Um evento de tecnologia noutro país da Europa. Uma excentricidade qualquer marcada à última da hora. 

E o vento lá me levaria.

Mas agora este vento parece mudar de direcção tão repentinamente. Sei lá se daqui a um mês tenho o meu posto de trabalho seguro. Sei lá se me vão deixar ir a casa ou se as restrições e as fronteiras se levantam tão depressa como estas viroses no ar.

Sei lá que me espera amanhã, se vou acordar com saúde, ou se uma qualquer tosse nocturna, anteriormente tão banal, poderá ser o primeiro sinal de um vírus que parece dormir dentro de nós à espera de um dia ao calhas para acordar.

E afinal, anseio o futuro por não o saber prever ou porque daqui do alto do monte não o vejo ainda?

E o muro caiu

Filipe B., 02.10.20

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Dois aquarianos juntos.

Se aqui este aquariano cabeça nas nuvens, tão criativo, com a mania da frieza e tão apaixonado pela sua liberdade já é difícil de levar, imaginem dois. Ah não é fácil, não. E é uma aprendizagem constante.

Aliás, é praticamente um fazer, apagar, e voltar a fazer, até estar quase, quase como nós queremos. Afinal a Lua deu-nos a criatividade para alguma coisa.

Honestamente, nunca achei que isto fosse possível. Quando nos conheci, porque isto de conhecer o outro também implica conhecer muito de nós próprios (acho eu), juro que achei que as nossas diferenças sobressaíam muito mais que as nossas semelhanças. E talvez tenha sido isso, pois mesmo assim deixei-me ficar (ou deixei-me ir) e com o tempo fui percebendo que havia algo muito, muito intenso que nascia entre nós.

Depois, claro, a minha liberdade começou a gritar, a querer fazer-se ouvir. Afinal, para quem esteve entregue a si próprio por tanto tempo, não é propriamente fácil abri a cave para a luz entrar. Nem esta partilha sincera dos espaços, dos hábitos e sobretudo dos sentimentos, medos, alegrias e pensamentos se faz assim tão repentinamente quanto pensamos.

Mas gostava que nos ouvissem falar um com o outro. Gostava também que fosse possível levar-vos ao exacto momento em que o nosso muro caiu e nos veio ao de cima tudo o que sentimos. O bom de ser aquariano é que assim estes acontecimentos raros são uma explosão.

E que grande muro que nós tínhamos, cada um, a circundar as suas inseguranças. Não terá sido por acaso que nos conhecemos em Berlim, e não deixarei nunca de sorrir com esta ironia e de abusar desta metáfora, pois ela serve-me perfeitamente para explicar quão difícil foi derrubar esse obstáculo e ver, por fim, que éramos já muito mais do queríamos admitir. Foi mesmo um encontrar, uma junção, dos lados Oeste e Leste. Duas forças que não queriam assumir, fosse por medo ou orgulho, que aquele muro já era só uma ilusão e que já pouco, na realidade, separava cada lado.

E digo-o outra vez. Gostava mesmo que nos ouvissem falar um com o outro, que vissem e sentissem aquela maneira tão nossa de partilharmos os nossos afectos ou de ficarmos perdidos a falar dos nossos livros, filmes e jogos, como se nada mais existisse lá fora.

No outro dia, tão exausto, ele adormeceu na minha cama enquanto via um filme e eu fiquei acordado até mais tarde a jogar. Quando fui tirar-lhe o portátil e ajeitá-lo para dormir, ele falou, sem qualquer filtro, vencido pelo sono, e eu gostava que fosse possível descrever aqui o que senti cá dentro. O meu coração tremeu, se isso é sequer possível. Já me tinha esquecido do que era sentir isso. Ai se fosse fácil mostrá-lo por palavras escritas... se fosse possível ter registado o meu olhar terno sobre ele.

Talvez aí eu conseguisse explicar melhor como 2020 me tirou tanto de um lado para me dar muito mais do outro.